Gênero e sexo não são sinônimos, mas estão relacionados. O gênero, como um conjunto de ideias e representações sobre o masculino e o feminino, cria uma determinada percepção sobre o sexo anatômico. As relações de gênero se reportam à sexualidade, ao comportamento dos corpos, às escolhas sexuais, à construção da identidade de gênero.
Como temos pensado nas diferenças de comportamentos sexuais como nomeadores de orientações sexuais?
A heterossexualidade deve sempre ser considerada uma norma e a homossexualidade e o homossexualismo patologias?
O cotidiano das escola e as práticas escolares têm servido para pensarmos as diferenças enquanto oportunidades de intercâmbios, de mudança de mentalidades e atitudes ou de reforço de comportamentos discriminatórios e de situações de desigualdades?
Além das relações entre os sexos opostos, o conceito de gênero inclui a noção de que os sistemas de poder e de subordinação se estabelecem também entre pessoas do mesmo sexo, de mesma classe, de mesma etnia etc. Assim, tais relações se travam entre mulheres, como já indicado, entre homens, que, por sua vez, podem ser jovens, velhos(as), negros(as) e brancos(as), e de raças/etnias diversas, ricos(as) e pobres, enfim, seres humanos em sua diversidade, portanto, plurais, imersos em tantas e tantas contingências históricas. A noção de gênero, por esse entendimento, des-oculta uma gama de relações sociais escondida pela outrora noção universal, única, de homem e de mulher, em geral empregada nos estudos iniciais sobre as mulheres. Tal pluralidade de experiências indicaria que as práticas sociais presentes nos sistemas de poder e de subordinação e as desigualdades sociais podem conter outras, de complementaridades e de consentimentos, situações transversas, o tempo todo de mão dupla, dialéticas, enfim. (COSTA, 2003).
Não podemos nos esquecer que as visões naturalistas reforçam as injustiças e as desigualdades. E se essas existem, como as pessoas podem ser felizes?
Ao utilizarmos o masculino genérico – quando falamos de uma maioria feminina – estamos adotando o discurso da neutralidade ou reforçando a desigualdade nos tratamentos?
Se pensarmos nas diferenças entre meninos e meninas como construções sociais na escola, perceberemos que essas diferenças se prestam como organizadoras do espaço social?
Muitas vezes constumamos ouvir: "as meninas são mais caprichosas que os meninos. As meninas são
disciplinadas, organizadas, cuidadosas,
esforçadas". E se o menino for muito quieto, meigo, disciplinado, organizado e ainda por cima, não gostar de futebol?
O que você tem a dizer a respeito da afirmativa que se segue?
Ao criarmos expectativas para o comportamento de meninos e meninas e reforço para esses comportamentos, na verdade não permitimos que nossos alunos criem a sua identidade de gênero, pois senão todos, uma grande maioria irá se esforçar para ser exatamente aquilo que atribuímos a eles/as.
E quanto ao tratamento dispensado à educação de homens e mulheres, mencionado no documento que se segue? Ficou no século passado ou ainda está presente entre nós?
"O Estado educará ou dará condições para educar a infância e a juventude para a família. Devem ser os homens educados de modo a que se tornem plenamente aptos para a responsabilidade de chefes de família. Às mulheres será dada uma educação que as torne afeiçoadas ao casamento, desejosas da maternidade, competentes para criação dos filhos e capazes da administração da casa." (SCHWARTZAN, 1948, p. 112).
Diante das questões apresentadas é importante refletir sobre alguns questionamentos que nos faz Guacira Louro (2001).Afinal, é "natural" que meninos e meninas se separem na escola, para os trabalhos de grupos e para as filas? É preciso aceitar que "naturalmente" a escolha dos brinquedos seja diferenciada segundo o sexo? Como explicar, então, que muitas vezes eles e elas se misturem" para brincar ou trabalhar? É de esperar que os desempenhos nas diferentes disciplinas revelem as diferenças de interesse e aptidão "características" de cada gênero? Sendo assim, teríamos que avaliar esses alunos e alunas através de critérios diferentes? Como professores e professoras de séries iniciais, precisamos aceitar que os meninos são "naturalmente" mais agitados e mais curiosos do que as meninas? E quando ocorre uma situação oposta à esperada, ou seja, quando encontramos meninos que se dedicam a atividades mais tranquilas e meninas que preferem jogos mais agressivos, devemos nos "preocupar", pois isso é indicador de que esses/as alunos/as estão apresentando "desvios" de comportamento? (LOURO 2001, p. 63 e 64)
Como temos tratado essas questões em casa, na escola e nos cursos de licenciatura e de formação de professores e professoras?